quinta-feira, 19 de julho de 2012

Esperança africana supera os problemas da realidade


Africanos se dizem melhores hoje do que cinco anos atrás.
A pesquisa, feita em dez países, diz que eles estão otimistas com relação ao futuro.

Apesar da somatória de problemas englobando desde doenças fatais como AIDS e malária, até políticos corruptos e pobreza crônica, um grande número de africanos afirma que estão melhores hoje do que cinco anos atrás e estão otimistas com relação ao próprio futuro e ao das próximas gerações, segundo uma pesquisa realizada pelo “New York Times” e pelo Pew Global Attitudes Project em dez países subsaarianos.


Christoph Bangert/The New York Times
Fiscais eleitorais após votação fraudada na Nigéria (Foto: Christoph Bangert/The New York Times)
Os resultados apresentam um panorama atípico e complexo de um continente em transição – um retrato de dez países africanos modernos tirado no momento em que lutam para constituir governos responsáveis, administrar conflitos violentos e transformar recursos naturais em riqueza para a população. 

A pesquisa identificou que, na maior parte, os africanos estão satisfeitos com os governos nacionais e a maioria dos entrevistados em sete dos dez países declarou que a situação econômica está boa pelo menos em alguns aspectos. Contudo, muitos afirmaram que enfrentam uma série de problemas complexos que às vezes ameaçam a vida, desde tráfico de drogas, passando por corrupção política, carência de saneamento básico, escolas inadequadas para as crianças, violência étnica e política, até doenças fatais. 

As entrevistas feitas pessoalmente foram realizadas em abril e maio com 8.471 adultos em Gana, Etiópia, Costa do Marfim, Quênia, Mali, Nigéria, Senegal, África do Sul, Tanzânia e Uganda. A amostra da pesquisa incluiu populações adultas de todas as regiões desses países, com exceção da África do Sul, onde se concentrou na zona urbana, e da Costa do Marfim, onde foi desproporcionalmente urbana e procurou se manter em áreas simpatizantes ao governo. A margem de erro da pesquisa foi de três ou quatro pontos percentuais para mais ou para menos. 
Batalha pela democracia 
Os resultados demonstraram que a batalha pela democracia e por bons governos na África é mais uma miscelânea de ganhos e retrocessos do que uma onda constante de progresso em um continente vitimado por alguns dos piores casos de desgoverno. Embora todos os países participantes da pesquisa sejam, em tese, democracias, metade dessas nações sofreu sérios golpes de movimentos multipartidários nos últimos anos. A maioria em todos os países declarou que líderes políticos corruptos são um grave problema. 
As últimas eleições na Etiópia e em Uganda foram frustradas pela violência e pela exclusão de candidatos de peso, e não conseguiram cumprir os padrões internacionais de idoneidade. Representaram um atraso considerável para ambos os países que há uma década eram tidos como símbolos proeminentes do futuro democrático da África. 

Problemas eleitorais atingiram até o Senegal, visto com freqüência como um ícone de esperança da instável região do ocidente africano porque jamais havia sofrido um golpe e possui uma longa tradição democrática. Neste ano, os partidos de oposição boicotaram as eleições legislativas no país alegando fraude eleitoral. 

Na Nigéria, país mais populoso e principal produtor de petróleo da África, os resultados da pesquisa refletem a decepção com o modo como as eleições são realizadas – 67% dos nigerianos afirmaram que a próxima eleição presidencial será marcada pela desonestidade. As eleições presidencial e local de abril foram de tal modo prejudicadas por fraudes e violência que a União Européia as considerou invalidadas. Perguntados se estavam, em geral, satisfeitos ou insatisfeitos com o andamento das coisas em seus países, 87% dos entrevistados pela pesquisa afirmaram que estão insatisfeitos. Os nigerianos, porém, revelaram-se os mais otimistas de todos os povos pesquisados – 69% disseram que esperam que as crianças de hoje na Nigéria terão uma vida melhor do que a da população atual. 

"Isso denota um enorme desafio para a democracia na África", declarou Peter M. Lewis, diretor de estudos africanos na Universidade Johns Hopkins e um dos criadores do Afrobarômetro, uma pesquisa de opinião pública sobre o pensamento africano. "Testemunhamos um progresso significativo nas práticas e liberdades democráticas nos últimos 10 ou 15 anos. Sabemos também que na maioria desses países, o cidadão comum não teve uma melhora significativa em suas condições materiais e de vida". 
Economia heterogênea 
Os dados econômicos da pesquisa apresentam um quadro heterogêneo. Grande parte dos entrevistados disse que a situação financeira havia melhorado nos últimos cinco anos, com exceção da Costa do Marfim, Tanzânia e Uganda. Muitas economias africanas crescem rapidamente com a alta nos preços de petróleo, minério de ferro, cobre e madeira registrada nos últimos anos – o crescimento total do produto interno bruto na África no ano passado foi de 5,7%, e alguns países, como a Nigéria, maior produtor de petróleo do continente, teve um crescimento muito mais elevado. 

Entretanto, a maior riqueza de recursos não os conduziu necessariamente a uma ampla prosperidade. Dos entrevistados na Nigéria, 82% disseram que a população média não se beneficia da abundância de petróleo do país. 

A fome, aparentemente, foi considerada menos grave – a maioria dos entrevistados em todos os países exceto Uganda, Quênia e Tanzânia declarou que tem dinheiro suficiente para comprar a comida necessária para a família. 

Maiorias expressivas disseram que escolas de má qualidade são um grave problema e muitos entrevistados afirmaram que é mais difícil oferecer educação para os filhos do que comida. A pesquisa também avaliou o posicionamento africano em relação aos Estados Unidos e identificou que, no geral, oito dos dez países pesquisados disseram que vêem o país como um aliado confiável. Demonstraram menos do sentimento de anti-americanismo que dominou as pesquisas de opinião pública nos últimos anos, mas alguns países deixaram clara a visão negativa em relação à cultura norte-americana. 82% na Tanzânia, dois terços no Senegal e cerca de metade dos entrevistados em Gana, Mali e Quênia se incluem neste último bloco. 


2 comentários:

  1. É bom saber que apesar de condições ruins de vida, os africanos não perdem a esperança, e se vêm melhor hoje do que antes, espero que a África só melhore daqui pra frente!

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  2. A esperança é a última que morre! Em péssimas condições, eles enxergam o futuro, a imaginam um pais sem pobreza.

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